sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

EU

A passagem da vida que escorre entre os dedos atrofiados e cinzas
manchados de nicotina é lenta,
meus dedos languidos seguram a areia como uma cinza de ópio.
O farelo da vida não vale o cachimbo e o vinho a tempos anda amargo,
o fedor do bairro agora está na minha sala.

A maestria do momento me lembra Mozart
quem tem tempo a perder?
não eu, há conspirações em cada prateleira,
deixo os homens com seus heróis e vilões com nomes engraçados.

Estou morrendo a cada minuto
não há nada comparado a isso,
quero comprar alguém que eleve minhas orações
alguém que se importe.
eu vou fazer você acreditar,
você precisa confessar,
alguém que se importe.

Compre seu próprio Jesus,
você sabe que ele lhe perdoará,
não sou assim,
toque na minha face
e veja o quão sou frio.
o dia nasce
a primeira dose da droga meu corpo sente
todas minhas células clamam, imploram, celebram
o primeiro trago do cigarro, ainda na cama
a fumaça dançando ao som de Drummond:
“A língua, inda sangrando em cacos de palavras”
até o teto ela sobe e se despedaça
pela janela entram os raios de sol
esse sol que despedaça a noite
flutuando pelo corredor chega a alegria da manhã
deita ao meu lado e enrola seus dedos em meus cabelos
sussura no meu ouvido que está atrasada
me serve mais uma dose e sai para voltar quem sabe quando
quando saio do quarto vejo a bagunça
são ao todo 18 garrafas fora as de antes
as pessoas foram embora
sento para escrever
mas quem disse que você me deixa em paz ?
com seus problemas de terceira
Merda amanhã de manhã limpo tudo

O terror que assolou muros e burgueses
que cai nas graças dos próprios
aquilo que o manteve vivo, que o matou
a poesia pobre, do gueto que era seu mundo
de zurique a Tóquio
do amor que se esqueceu, e perdeu
do que nunca teve
os 3.000 em caviar
a henry que te consumia
o que vejo em min
você riu e pintou
e eu sem saber acabei na parede
de um milionário qualquer
Eu acaba hoje a noite.

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